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GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Enquanto
na ficção a radiação gama conferiu poderes extraordinários ao Incrível Hulk, na
vida real ela ajuda a dificultar a vida do mosquito da dengue, prejudicando sua
capacidade reprodutiva.
Cientistas
do Cena (Centro de Energia Nuclear na Agricultura) da USP de Piracicaba
desenvolveram uma técnica que usa radiação para tornar o Aedes aegypti estéril.
Usando
uma fonte de Colbalto-60, os pesquisadores fazem uma espécie de
"bombardeio" de raios gama no inseto. A técnica, chamada de
irradiação, já tem uso consagrado em várias outras aplicações, inclusive na
indústria de alimentos.
A
dose de radiação usada é considerada baixa e não mata o mosquito, mas é
suficiente para torná-lo estéril.
"A
técnica é perfeitamente segura. Não há risco para o ambiente, porque a radiação
não deixa nenhum tipo de resíduo perigoso", explica Valter Arthur,
coordenador do estudo.
A
irradiação é feita só nos mosquitos machos, quando eles atingem chamada fase
pupa, em que já estão com todos os órgãos formados, mas ainda não são adultos.
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A
criação dos insetos é feita nas instalações de uma empresa parceira, a Bioagri,
em Charqueada (interior de SP).
Depois
do processo, os mosquitos irradiados são soltos no ambiente, onde competirão
com os machos normais pela cópula com as fêmeas. As relações chegam a
acontecer, mas os ovos decorrentes delas não eclodem, o que ajuda a controlar a
população dos insetos.
Antes
de testar os mosquitos em ambientes "reais", os pesquisadores
precisam verificar se os exemplares de Aedes aegypti estéreis são tão
competitivos sexualmente quanto os outros.
Essa
etapa está prestes a começar, mas o trabalho já foi apresentado na última
edição do Congresso Brasileiro de Entologia.
De
acordo com Ademir Martins, pesquisador do instituto Oswaldo Cruz que não
participa do trabalho, métodos bastante similares já tiveram bastante sucesso
no controle de pragas agrícolas.
"A
técnica andou meio esquecida, mas agora está ressurgindo em alguns
trabalhos", avalia o cientista.
Segundo
ele, um possível inconveniente é a baixa autossustentabilidade do método, uma
vez que é preciso ficar constantemente irradiando e liberando machos inférteis
nos ambientes.
Os
últimos testes com uma vacina para a dengue, doença que mata 20 mil pessoas ao
ano no mundo, fracassaram em 2012. Hoje, há várias iniciativas que investem no
controle do mosquito.
No
Brasil, duas outras estão em testes. A Fiocruz trabalha inserindo uma bactéria
que torna o mosquito "vacinado" contra a dengue. Na Bahia, há uma
"fábrica" de mosquitos transgênicos, que dão origem a filhotes
incapazes de sobreviver.
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